A economia social em síntese
Em 2020, Portugal contava com um total de 73 851 entidades da economia social.
Os principais tipos de estruturas consideradas como parte integrante da economia social eram:
- Associações com fins altruísticos e entidades abrangidas pelos subsetores comunitário e autogestionário (70 613)
- Cooperativas (2 153)
- Fundações (618)
- Misericórdias (376)
- Associações mutualistas (91)
Portugal dispõe de uma conta satélite para a economia social. O projeto consiste num esforço de colaboração entre o Instituto Nacional de Estatística e a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES), no âmbito de um protocolo de cooperação. A última edição das contas satélite foi publicada em 2023 e corresponde ao período de 2019 a 2020.
A variação nominal do valor acrescentado bruto (VAB) da economia social (+0,4 %) e da economia nacional (–5,8 %) em 2020 resultou num aumento da importância relativa do VAB da economia social no VAB da economia nacional, de 3,0 % em 2019 para 3,2 % em 2020: a mais elevada das quatro edições da conta satélite.
Com um aumento de 1,8 % entre 2019 e 2020, a remuneração dos trabalhadores da economia social registou uma evolução mais favorável do que na economia nacional, em que a mesma variável registou um ligeiro aumento de 0,03 % no mesmo período. Ainda assim, a remuneração média dos trabalhadores foi inferior à da economia nacional, apresentando uma dispersão significativa por grupos de entidades. As associações mutualistas foram o grupo da economia social que registou a remuneração média dos trabalhadores mais elevada, seguidas das cooperativas e das fundações, ambas com remunerações superiores às da economia nacional.
Fonte: Conta Satélite da Economia Social (2023) — quarta edição
* Para este sítio Web, incluímos esta avaliação global do nível de desenvolvimento, que se baseia nos dados e nas informações atualmente disponíveis sobre o ecossistema da economia social e que, por conseguinte, apresenta algumas limitações. No entanto, considerámos útil incluir uma avaliação global.
** O estudo do CESE/CIRIEC (2016) intitulado «Evolução recente da economia social na União Europeia» estimou uma percentagem de 5 % do emprego e 215 963 empregos remunerados.
Para mais informações sobre a qualidade dos dados, consulte a nossa nota sobre os dados da economia social.
Tradição e origens
Em Portugal, a economia social assenta numa tradição nascida com as misericórdias e as associações mutualistas. Estas entidades têm uma longa tradição de apoio aos grupos desfavorecidos e desempenham um papel vital nas esferas social e económica desde os séculos XIV e XV. Ao longo do tempo, os movimentos cooperativos e associativos foram ganhando importância, sobretudo a partir da década de 1970, e tornaram-se parte integrante da economia portuguesa.
A Constituição portuguesa definiu o setor cooperativo e social como um terceiro setor dos meios de produção, a par do público e do privado, sendo dever do Estado a proteção e a promoção deste setor. Este reconhecimento sublinha a importância da economia social em Portugal e evidencia o empenho da Administração Pública em apoiar e fomentar o seu crescimento.
Condições de enquadramento e ecossistema da economia social
Política e enquadramento jurídico
- O enquadramento jurídico da economia social em Portugal é estabelecido pela Lei n.º 30/2013, de 8 de maio, também conhecida como a «Lei de Bases». Esta lei estabelece os princípios e regulamentos fundamentais que regem o setor da economia social e lança as bases para a criação de uma conta satélite dedicada à economia social.
- De acordo com a Lei de Bases, o setor da economia social engloba diversas entidades, nomeadamente as cooperativas, as associações mutualistas, as misericórdias, as fundações, as associações com fins altruísticos que desenvolvam a sua atividade nos domínios cultural, recreativo, desportivo e de desenvolvimento local, as entidades abrangidas pelos subsetores comunitário e autogestionário e outras instituições particulares de solidariedade social (IPSS). Para além disso, a lei prevê a possibilidade de constituição de outras entidades que se enquadrem nos princípios orientadores da economia social.
- Nomeadamente, o estatuto das IPSS define estas instituições como «pessoas coletivas sem finalidade lucrativa, constituídas exclusivamente por iniciativa de particulares, com o propósito de dar expressão organizada ao dever moral de justiça e de solidariedade, contribuindo para a efetivação dos direitos sociais dos cidadãos». As IPSS podem assumir diferentes formas de organização: associações de solidariedade social, associações mutualistas, fundações de solidariedade social e misericórdias. O estatuto inclui ainda os Centros Paroquiais da Igreja Católica (centros sociais paroquiais) e as Cáritas.
Estratégias
- O atual programa do Governo em Portugal reconhece o papel significativo da economia social e compromete-se a colaborar estreitamente com as entidades da economia social, com base na parceria de longa data existente. O programa delineia uma série de medidas destinadas a apoiar e reforçar o setor da economia social.
- O compromisso de Portugal em promover e apoiar a economia social também se reflete na sua estratégia Portugal 2030. Este programa implementa um Acordo de Parceria celebrado entre Portugal e a Comissão Europeia, que define os principais objetivos estratégicos para o período de 2021 a 2027, com um orçamento total de 23 mil milhões de EUR.
- Entre outros aspetos, a estratégia define como prioridades medidas destinadas a melhorar o acesso ao emprego para todos os candidatos a emprego, incluindo o trabalho independente e a economia social, o apoio à capacitação dos agentes e operadores da economia social e o apoio à capacitação dos parceiros da economia social do Conselho Nacional para a Economia Social. Parte das ações relacionadas com a oferta formativa e educativa está orientada para acompanhar os desafios da transição ecológica.
Decisores políticos no domínio da economia social
O Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e o Ministério da Economia são os principais organismos governamentais responsáveis pela política no domínio da economia social.
O Conselho Nacional para a Economia Social é um órgão consultivo, de avaliação e de acompanhamento das estratégias e propostas políticas sobre questões relacionadas com a promoção e o crescimento da economia social em Portugal.
Redes, federações e entidades representativas
A Confederação Portuguesa de Economia Social reúne as entidades representativas das diferentes famílias da economia social em Portugal. A Confederação tem como principais objetivos a promoção e defesa da Economia Social, a defesa dos interesses das suas associadas, a representação interna e externa do setor, a interlocução com o Estado e a participação como parceiro social na definição das políticas públicas e nas orientações estratégicas para a Economia Social.
As cooperativas são representadas pela Confederação Cooperativa Portuguesa (CONFECOP).
Assente numa parceria efetiva entre o Estado e as organizações representativas do setor da economia social e assumindo a forma jurídica de cooperativa de interesse público, a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social tem como objetivo promover o reforço do setor da economia social, aprofundando a cooperação entre o Estado e as organizações que o integram. Contam com várias iniciativas de apoio ao empreendedorismo social e ao impacto social.
Como participar na economia social em Portugal?
A CASES disponibiliza um conjunto alargado de programas de apoio à promoção da economia social, com particular destaque para as iniciativas dirigidas aos jovens. Pode encontrar mais informações sobre estes programas no seu sítio Web.
A Academia de Líderes Ubuntu é um projeto de educação não formal orientado especificamente para a capacitação de jovens com potencial de liderança, provenientes de meios desafiantes ou que neles queiram trabalhar. Tem como objetivo acompanhar, facilitar, enriquecer e consolidar o desenvolvimento de cada participante enquanto líder ao serviço da comunidade, promovendo competências humanas e técnicas relevantes para o seu percurso de vida.
Obtenha apoio
Vários intervenientes gerem incubadoras para apoiar o desenvolvimento de entidades da economia social e projetos de inovação social. A Rede de Incubadoras de Inovação Social tem como objetivo reforçar o reconhecimento e a valorização das incubadoras de inovação social em Portugal. Pode ajudar pessoas e organizações a identificarem a incubadora mais adequada para os seus projetos específicos.
A Agência de Empreendedores Sociais é uma organização que tem como missão criar, promover e apoiar a implementação de projetos de empreendedorismo social que contribuam para a sustentabilidade a nível social, económico, cultural e ambiental, em prol do desenvolvimento sustentado de uma comunidade. Uma das suas iniciativas é a Fábrica do Empreendedor, um espaço de apoio nas áreas do emprego, da formação/qualificação, da criação de empresas, da promoção de competências empreendedoras e da dinamização de projetos de intervenção comunitária que visam a promoção de comunidades sustentáveis.
O Centro para a Economia e Inovação Social, um projeto conjunto luso-espanhol lançado em abril de 2023, tem como objetivo a capacitação de entidades da economia social, através da promoção da formação profissional e do reconhecimento de competências, bem como da prestação de serviços e apoio técnico.
Financiamento
O Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI) é o principal instrumento de políticas económicas dirigidas às micro, pequenas e médias empresas dos setores da indústria, do comércio, dos serviços e da construção.
Para além disso, a iniciativa Portugal Inovação Social atua através de quatro instrumentos de financiamento complementares, que acompanham o ciclo de vida das iniciativas em matéria de inovação social e empreendedorismo social. Pode encontrar mais informações aqui.
O Banco Português de Fomento também financia entidades da economia social, apoiando a implementação de novos projetos, a requalificação de equipamentos sociais e os custos da transição ecológica.
A CASES gere o Social Investe, um programa destinado a apoiar o setor da economia social através de uma linha de crédito específica.
Saiba mais sobre a economia social na Portugal
- O portal eSocial é um espaço de informação, partilha, divulgação e interação da economia social. Inclui o Mapa de Inovação e Empreendedorismo Social, que tem como objetivo identificar e reconhecer iniciativas de inovação e empreendedorismo social de elevado potencial em Portugal. Trata-se de um projeto de investigação que abrange todas as iniciativas que se enquadram na definição de inovação e empreendedorismo social, cartografando-as através de uma metodologia de proximidade com as comunidades locais.
- A publicação «Guia Prático da Economia Social» pretende divulgar o setor da economia social, destacando a diversidade das entidades que o constituem e das atividades por elas desenvolvidas, reunindo informação útil sobre o seu universo, as suas especificidades, bem como sobre os procedimentos de constituição e de reconhecimento das suas entidades.
- A IES Social Business School disponibiliza uma plataforma de conhecimento com publicações de investigação, livros IES, projetos de investigação de impacto e histórias de impacto. Pode consultá-los aqui.
- Conselhos Consultivos Nacionais da GSGII sobre investimento de impacto. A rede de Conselhos Consultivos Nacionais reúne peritos nos domínios do investimento, das políticas públicas e da inovação social e ambiental. O seu papel consiste em promover e facilitar o desenvolvimento do investimento de impacto nos países em que desenvolvem a sua atividade. Portugal - GSG (gsgii.org)
Relatórios
- Social Enterprises and their ecosystems in Europe, Country Reports, Portugal, 2019 (não traduzido para português)
- Conta Satélite da Economia Social (2023) — quarta edição
- Conta Satélite da Economia Social (2019) — terceira edição
- A Economia Social numa Visão Plural(2020) — CIRIEC/AMM
- Mapping social and solidarity ecosystems around the world, OECD, 2023 (não traduzido para português)
- Legal Framework Analysis - National Report: Portugal, Cooperatives Europe, 2021 (Enquadramento jurídico das cooperativas) (não traduzido para português)